A obesidade tem experimentado um constante aumento. Entre 2006 e 2016, o sobrepeso na população brasileira subiu de 42,6% para 53,8% das pessoas. No mundo, segundo a OMS, 1,6 bilhão de pessoas acima de 15 anos foram classificadas como tendo sobrepeso, 400 milhões estavam obesas em 2005 e as projeções para 2015 eram de aproximadamente 2,3 bilhões de pessoas acima do peso e mais de 700 milhões obesas.
Das seis principais causas de morte no Brasil, quatro estão diretamente ligadas à obesidade e têm repercussões cardiovasculares:
Chama a atenção que, a despeito dos avanços da medicina, as mortes por doenças cardiovasculares, que deveriam ter caído nos últimos cinco anos em relação aos 25 anos anteriores, permaneceram estagnadas, o que pode ser devido ao aumento da obesidade.
Em razão do aumento de massa corpórea, a obesidade aumenta a carga de trabalho do coração por aumentar o volume total de sangue e o débito cardíaco. Aumentos crescentes na pressão de enchimento e volume do ventrículo esquerdo podem levar à dilatação da câmara e à hipertrofia ventricular esquerda. Mas, não é só isso: a gordura abdominal aumenta o risco de entupimento das artérias, dificultando o desempenho adequado do coração.
Qual é o substrato fisiopatológico das repercussões cardíacas da obesidade?
A obesidade é resultante da interação de múltiplos fatores: genéticos, metabólicos, sociais, comportamentais e culturais. Na maioria dos casos, ela está associada ao abuso da ingestão calórica e ao sedentarismo, gerando um balanço energético positivo. Isto é: a quantidade de energia adquirida é maior que a energia gasta na realização das funções vitais e das atividades em geral.
Acredita-se que fatores genéticos também possam estar relacionados à eficiência no aproveitamento, armazenamento e mobilização dos nutrientes ingeridos e ao gasto energético, em especial à taxa metabólica basal, ao controle do apetite e ao comportamento alimentar.
A obesidade pode estar associada também a algumas desordens endócrinas, como o hipotireoidismo e problemas no hipotálamo, mas essas causas representam menos de 1% dos casos de excesso de peso.
As pessoas que referiram obesidade materna e/ou paterna apresentaram risco quase duas vezes mais alto de tendência à obesidade do que aqueles cujos pais não são referidos como obesos. As mulheres que já tiveram filhos apresentam risco de obesidade quase duas ou três vezes mais alto do que as nulíparas.
As razões sociais, econômicas e culturais de aumento da obesidade são relativas a mudanças em alguns momentos da vida como, por exemplo, casamento, viuvez, separação, determinadas situações de violência, fatores psicológicos como estresse, ansiedade, depressão e compulsão alimentar, alguns medicamentos, suspensão do hábito de fumar e/ou do consumo excessivo de álcool e a redução drástica de atividade física.
Na obesidade, a concentração de gordura no abdômen favorece a proliferação de células que produzem substâncias inflamatórias que se alojam nos vasos sanguíneos. Existem dois tipos de gordura abdominal, a subcutânea, que se localiza à frente dos músculos abdominais, e a perivisceral, que se acumula entre as alças intestinais e órgãos internos como o fígado e intestino, sendo a mais perigosa.
As placas de gordura que se formam obstruem a passagem do sangue, o que pode causar isquemias a jusante (à frente). É importante que o colesterol esteja em níveis normais, sobretudo o HDL, o chamado “bom colesterol”, porque ele é o responsável por ajudar a remover a gordura das paredes das artérias e diminuir o risco de um ataque cardíaco.
Quais são as características clínicas das repercussões cardíacas da obesidade?
Para o leigo, a comprovação mais notória e contundente dessa associação mórbida vem da observação de que existem muito poucos idosos obesos. Isto porque, além da obesidade ser uma causa de doenças cardiovasculares fatais, quando essas doenças acontecem por outros motivos, a recuperação delas é mais difícil nas pessoas obesas que nas pessoas com peso dentro do ideal.
Como o médico trata as repercussões cardíacas da obesidade?
O tratamento da doença cardíaca no paciente obeso seguirá os mesmos parâmetros que nos demais pacientes, mas haverá uma maior insistência num controle nutricional adequado, restringindo gorduras saturadas e carboidratos, além de ênfase na prática de atividade física regular. Medicamentos para controlar ansiedade podem ser indicados e, em casos especiais, até mesmo a cirurgia bariátrica pode ser aconselhada.
Como prevenir as repercussões cardíacas da obesidade?
Para se prevenir as repercussões cardíacas da obesidade há que se tratar a própria obesidade. Contudo, a obesidade só pode ser tratada quando o indivíduo obeso se compromete a fazer uma mudança definitiva nos hábitos alimentares, dando preferência a alimentos como verduras e legumes de baixa caloria e a fazer atividades físicas regulares. Com isso, ele pode reduzir os riscos de doenças cardiovasculares em até 58%.
Fonte: AbcMed. "Repercussões cardíacas da obesidade". Publicação autorizada sob licença do AbcMed.