O risco cirúrgico é uma avaliação médica feito antes de toda e qualquer cirurgia, que visa avaliar o estado de saúde do paciente no período pré-operatório, calculado com base em escalas e padrões aprovados por sociedades médicas.
Essa avaliação deve levar em conta, além dos exames laboratoriais e de imagens, fatores como idade do paciente, doenças crônicas, histórico familiar do paciente e características do procedimento cirúrgico a ser executado.
Os riscos inerentes a uma cirurgia podem estar relacionados ao paciente, ao próprio procedimento e à capacidade da instituição na qual ela será realizada.
• Quanto ao paciente, devem ser levados em conta:
- Sua idade;
- Estado geral de saúde;
- Obesidade;
- Tabagismo;
- Alcoolismo;
- Medicamentos utilizados;
- Doenças associadas.
• Quanto às cirurgias, é costume classificá-las em três níveis:
a). Cirurgias de pequeno porte, que em geral não invadem cavidades do corpo. São, por exemplo, cirurgias reconstrutivas, cirurgia de mama, tireoide, dentre outras;
b). Cirurgias de médio porte, como cirurgias ortopédicas, renal, neurocirurgia, dentre outras;
c). Cirurgias de grande porte, como cirurgias vasculares abertas, transplante hepático ou pulmonar, pneumectomia, dentre outras.
Por seu lado, a unidade de saúde precisa contar com condições e equipamentos condizentes com o procedimento a ser realizado.
• Por que fazer um exame do risco cirúrgico?
O risco cirúrgico pode ser tão importante para os pacientes quanto a própria cirurgia. Os dados fornecidos por ele, principalmente quando se desviam do normal, são vitais para que o cirurgião e o anestesista possam manejar o paciente corretamente.
Algumas pessoas só descobrem algum problema de saúde quando realizam um exame de risco cirúrgico. Além disso, a determinação prévia do risco cirúrgico ajuda a diminuir as chances de sequelas, complicações e morte devidas à operação.
A avaliação do risco cirúrgico ajuda positivamente também nas intercorrências inesperadas durante a cirurgia, principalmente se o paciente integra grupos de risco. Mas nem todas as pessoas precisam passar por todos os exames laboratoriais e/ou de imagens que normalmente compõem o risco cirúrgico. Os pacientes que mais se beneficiam com esses exames são os que têm fatores de risco, sintomas ou histórico que levantem alguma hipótese de doença.
Em cirurgias de maior porte, exames simples costumam ser requisitados, em especial aqueles que monitoram o sistema cardiovascular, porque ele é o mais sobrecarregado durante procedimentos cirúrgicos e precisa estar em boas condições para responder às exigências da cirurgia. Caso ele não esteja no melhor de seu rendimento, o cirurgião pode reagendar ou até mesmo cancelar a cirurgia.
• De um modo geral, os fatores que mais comumente representam risco nas cirurgias são:
- Arritmias;
- Doença pulmonar obstrutiva crônica;
- Diabetes;
- Insuficiência renal;
- Coagulopatias (distúrbios que provocam alterações na coagulação sanguínea);
- Faixa etária do paciente;
- Características próprias da cirurgia que será realizada.
• De que consta o risco cirúrgico?
O paciente deve marcar uma consulta com um cardiologista para que este o examine e peça os exames necessários. De maneira geral, a avaliação clínica é a apuração mais relevante antes de uma cirurgia, sendo que outros exames podem ser recomendados para complementar esse diagnóstico. Alguns exames constituem uma rotina, como exame de sangue, eletrocardiograma, coagulograma e radiografia de tórax, mas outros mais específicos podem ser solicitados de acordo com cada caso.
No entanto, a avaliação pré-operatória não precisa ser recomendada para todas as pessoas. Por exemplo, no caso de um paciente com menos de 40 anos, sem sintomas, doenças crônicas ou histórico de patologias graves, que realizará um procedimento simples. Nesse cenário, os exames se revelam desnecessários. Muitas vezes, o exame pré-operatório irá apenas sugerir alguma mudança nos hábitos do paciente nos dias que precedem a cirurgia.
O risco cirúrgico é tradicionalmente conduzido por um médico especializado em cardiologia, haja vista que os riscos maiores são relativos ao sistema cardiovascular.
• Graus de gravidade do risco cirúrgico:
Existem vários modelos de classificação dos graus de gravidade do risco cirúrgico. Aqui reproduziremos o mais utilizado entre nós, o da American Society of Anesthesiologists (ASA), que classifica o risco cirúrgico em seis níveis:
- ASA 1: paciente sadio, sem distúrbios fisiológicos, bioquímicos ou psiquiátricos;
- ASA 2: paciente com uma condição leve a moderada, que pode afetar a cirurgia ou a anestesia, mas que não compromete a atividade normal do paciente, como a hipertensão controlada, por exemplo;
- ASA 3: paciente com um distúrbio que compromete a sua atividade normal, impactando a anestesia e a cirurgia, como a arritmia cardíaca, por exemplo;
- ASA 4: paciente que mostra uma desordem severa, que pode levar à morte e tem grande impacto na anestesia e na cirurgia, como insuficiência renal, por exemplo;
- ASA 5: paciente moribundo, que depende da operação para sobreviver;
- ASA 6: paciente com morte cerebral, que terá os órgãos removidos para doação.
Fonte: ABCMED. "Risco cirúrgico - o que devo saber sobre ele?". Autorizado sob licença CC BY-ND 3.0 BR.