No interior dos vasos sanguíneos, o sangue deve estar sempre em forma líquida para poder fluir sem embaraço, mesmo nos pequenos capilares, que são as ramificações terminais das artérias. De modo natural, quando ganha o exterior dos vasos ou é daí retirado, o sangue rapidamente assume uma forma sólida, denominada coágulo, e o processo que leva a esse resultado é chamado coagulação sanguínea.
Algumas vezes isso pode acontecer também no interior de artérias ou veias, em pontos nos quais as paredes dos vasos tenham sido lesadas ou sofrido um processo de degeneração. Esse é o processo de formação de trombos. Os trombos, assim formados, podem crescer de tamanho, chegando a obstruir a circulação no vaso correspondente e podem, ainda, se desprender do local e viajar pela circulação, obstruindo à distância vasos de menor calibre (trombose). No interior de uma veia podem também sofrer um processo inflamatório, dando formação a uma tromboflebite.
Tanto o processo de coagulação como de anticoagulação são essenciais à vida, o primeiro para estancar sangramentos oriundos de hemorragias (hemostasia) e o outro para que o sangue possa circular normalmente.
A formação de um coágulo é um processo complexo que envolve a transformação do fibrinogênio em fibrina, a qual forma uma rede especialmente delicada e fina, capaz de reter células sanguíneas e plaquetas e agregá-las (agregação plaquetária). Feito isso, é desencadeada a cascata de coagulação, para formar um coágulo, composta pelos fatores químicos da coagulação.
O que são anticoagulantes?
Os anticoagulantes são substâncias químicas que previnem ou reduzem a coagulação do sangue ou prolongam o tempo de coagulação. Algumas dessas substâncias existem na natureza, por exemplo, em animais que se alimentam de sangue, como alguns tipos de morcegos, sanguessugas e mosquitos, nos quais ajudam a manter a área da mordida aberta por tempo suficiente para que o animal sugue o sangue desejado.
Como medicamentos, os anticoagulantes são usados na terapia de distúrbios trombóticos. Os anticoagulantes orais são tomados em forma de comprimidos. Em hospitais, os anticoagulantes podem ser aplicados por via intravenosa. Alguns anticoagulantes são usados em equipamentos médicos onde o sangue não deve coagular, como tubos de ensaios, bolsas para transfusão de sangue e equipamentos de diálise.
Os anticoagulantes estão intimamente relacionados aos medicamentos antiplaquetários e trombolíticos, atuando nas várias etapas da coagulação sanguínea. Especificamente, os antiagregantes plaquetários inibem a agregação (aglutinação) das plaquetas, enquanto os anticoagulantes propriamente ditos inibem também alguns dos fatores de coagulação que agem após a agregação plaquetária inicial.
Anticoagulantes: prós e contras
O uso de anticoagulantes é uma decisão baseada nos riscos e benefícios que podem advir da anticoagulação. O maior risco de terapia de anticoagulação é o aumento do risco de sangramento, mas em pessoas saudáveis o aumento desse risco é mínimo. Naquelas que passaram por uma cirurgia recente, aneurismas cerebrais e outras condições especiais, o risco de sangramento pode ser muito grande.
Geralmente, o benefício da anticoagulação é a prevenção ou a redução da progressão de uma doença formadora de trombos. Algumas indicações de enfermidades capazes de terem benefícios dessa terapia incluem a fibrilação atrial, a doença arterial coronariana, a trombose venosa profunda, o acidente vascular cerebral isquêmico, estados de hipercoagulabilidade, o infarto do miocárdio, a embolia pulmonar e a re-estenose de stents. Nestes casos, a terapia de anticoagulação pode prevenir a formação de coágulos perigosos ou impedir o crescimento de coágulos.
A decisão de iniciar a anticoagulação terapêutica envolve muitas vezes a utilização de ferramentas de resultados previsíveis de risco de hemorragia múltipla, como estratificações pré-teste não invasivas, devido ao potencial para hemorragias durante o uso de agentes para diluir o sangue.
Um possível efeito colateral muito temido dos anticoagulantes é o sangramento excessivo (hemorragia), porque esses medicamentos aumentam o tempo necessário para a formação de coágulos sanguíneos. Pacientes com mais de 80 anos de idade podem ser especialmente susceptíveis a complicações hemorrágicas quando tomam anticoagulantes.
A depleção de vitamina K aumenta o risco de calcificação arterial e calcificação das válvulas cardíacas, especialmente se houver excesso de vitamina D. Embora a baixa adesão à terapia de anticoagulação esteja associada a um maior risco de acidente vascular cerebral entre os pacientes de alto risco, os benefícios da terapia anticoagulante não superam os danos em pacientes com escore nulo.
Os sinais de sangramento excessivo podem incluir a presença de sangue na urina ou nas fezes, contusões severas, hemorragias nasais mais prolongadas que o habitual, sangramento nas gengivas, vômitos e tosses sanguinolentas, dor severa e repentina nas costas, dificuldade em respirar ou dor no peito e, nas mulheres, sangramento intenso ou aumentado durante os períodos menstruais ou fora deles. Em alguns casos, esses sangramentos podem constituir uma emergência médica e o paciente deve procurar atendimento médico imediato. Uma situação particular em que o paciente também deve procurar atendimento médico imediato é aquela em que experimente qualquer sangramento devido a acidentes ou ferimentos graves.
Outros efeitos colaterais dos anticoagulantes podem ser: diarreia ou constipação, sentimento de estar doente, indigestão, tontura, dores de cabeça, erupções cutâneas, comichão na pele, quedas de cabelo e icterícia (amarelado da pele e do branco dos olhos).
Fonte: AbcMed. "Anticoagulantes: prós e contras". Autorizado sob licença CC BY-ND 3.0 BR.