De acordo com estudo realizado pela American Heart Association, a taxa de mortes por pressão alta aumentou 13% na última década. O Brasil aparece em sexto lugar neste ranking, que abrange dados de 190 países. Fatores psicológicos, estresse, ansiedade e certos traços de personalidade são apontados como os principais desencadeadores da doença.
“Além de hereditariedade, genética e estilo de vida, a pressão alta tem causas emocionais profundas. O estresse aumenta o ritmo cardíaco, acelera a respiração, libera adrenalina, noradrenalina e cortisol, colocando o corpo em estado de alerta, o que, até certo ponto, é normal e benéfico para o organismo, que fica pronto para a ação. Uma sobrecarga desses hormônios, porém, é extremamente prejudicial para a saúde”, explica a Dra. Claudia Chang, pós doutora em endocrinologia e metabologia pela USP e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
Os perigos da relação entre estresse e pressão alta
O estresse se desenvolve em diferentes fases. O primeiro estágio inclui o estado de alerta, e isso acontece sempre que nos deparamos com qualquer situação que nos tire de uma zona segura, incluindo imprevistos e exposição repetitiva a ambientes e situações de tensão. Trata-se de uma reação natural: o cérebro interpreta algo como perigo e nos prepara para os comportamentos de luta ou fuga.
“Na fase de alerta, o corpo aumenta a produção de adrenalina e cortisol, neurotransmissores que nos deixam mais ligados, enérgicos e preparados para a ação. Se o ativador do estresse desaparecer, o indivíduo retorna ao seu estado normal, sem prejuízos”, diz Claudia Chang.
No entanto, se o evento estressor persistir, seja no contexto real ou na sua mente em forma de preocupações, essas substâncias podem ter efeitos diversos no organismo. “A pessoa passa para um nível mais alto de estresse: a fase de resistência. Nesse estágio, os sintomas começam a se agravar e surge um intenso cansaço físico e mental”.
Caso os estímulos estressores continuem presentes, a pessoa entra em uma zona de risco: a fase de quase-exaustão. A partir de então, o corpo manifesta:
• Fadiga física e emocional;
• Problemas de memória e concentração;
• Alterações na libido, no sono e no apetite;
• Queda no sistema imunológico;
• Problemas de pele e queda de cabelo;
• Predisposição aumentada para o surgimento de tumores;
• Disfunções gastrointestinais;
• Desequilíbrio de colesterol e triglicérides;
• Aumento da pressão arterial.
“Diante de níveis elevados e persistentes de estresse, há um risco aumentado para pessoas hipertensas, que ficam mais propensas a serem acometidas por acidente vascular cerebral (AVC), infarto e outras doenças do coração”, completa Claudia Chang.
Como evitar que o estresse afete a pressão arterial
Além do acompanhamento médico regular, há formas simples de diminuir os efeitos do estresse na pressão alta:
• Atividade física
A prática regular de exercícios físicos é recomendada como tratamento auxiliar em quase todos os quadros de saúde. Ela melhora o funcionamento dos sistemas respiratório e circulatório, reduzindo uma série de problemas, inclusive a pressão alta.
“O hábito reduz a pressão sanguínea e mantém os níveis normalizados durante e após a prática de atividades. Entretanto, antes de calçar o tênis e ir ao parque, é fundamental consultar um especialista e passar por uma avaliação, que indicará a melhor modalidade de exercício e o nível de intensidade adequado”, alerta a endocrinologista.
• Saúde emocional
“A forma como vemos o mundo e respondemos aos conflitos têm grande influência na saúde mental. Prova disso é que quanto mais pensamos em um determinado problema, mais nosso corpo responde com sintomas de estresse”.
Segundo a especialista, uma maneira de amenizar o estresse é desenvolver formas saudáveis de lidar com as próprias emoções. “Nesse sentido, a psicoterapia surge como uma aliada para o autoconhecimento, o autocontrole e a inteligência emocional”.
• Monitoramento da pressão
Pensar em alternativas para reduzir o estresse e combater a pressão alta é uma medida valiosa para a saúde. Mas para ver os efeitos dos bons hábitos é imprescindível monitorar a pressão diariamente — e isso nunca foi tão prático como é agora.
Com um monitor de pressão arterial você pode verificar qualquer alteração em casa, sem precisar se deslocar até uma farmácia ou posto de saúde. Vale lembrar que os medidores são recursos necessários para o controle diário de pessoas hipertensas, mas o acompanhamento médico regular não deve ser interrompido.
• Lazer e descanso
Ninguém aguenta a pressão de uma rotina atribulada sem uma válvula de escape. Antes que o corpo sinalize o esgotamento por meio de problemas de saúde, é essencial reorganizar a agenda e ganhar tempo para descansar e realizar atividades prazerosas.
“Vale dizer que a pandemia não é desculpa para não seguir as dicas citadas e cultivar um estilo de vida saudável, mantendo uma alimentação equilibrada e sem excessos, e evitando hábitos nocivos, como privação de sono e consumo constante de álcool”, finaliza Claudia Chang.
Fonte: Portal EcoDebate. "Os perigos da relação entre estresse e pressão alta". Por Flávia Ghiurghi.