Embora a presença de doenças cardíacas na gravidez ocorra em apenas 1% a 4% das mulheres, a cardiopatia é considerada a causa não obstétrica mais comum de mortalidade materna.
A gravidez é um período de vários ajustes fisiológicos de todos os sistemas do organismo da mulher. Naquelas com doença cardíaca, as alterações cardiocirculatórias podem demonstrar cardiopatias não diagnosticadas ou até causar e/ou agravar a insuficiência cardíaca, com risco de morte.
No Brasil, a doença reumática é a causa mais frequente de cardiopatia na gravidez e sua incidência é estimada em 50% das cardiopatias em gestantes. Outros fatores que estão relacionados às cardiopatias em grávidas são hipertensão pulmonar, fibrilação atrial, antecedentes de tromboembolismo e endocardite infecciosa (infecção por micro-organismos, tanto bactérias quanto fungos, no coração).
Para o bebê de uma mãe cardiopata, o risco de má-formação, mortalidade e morbidade também é aumentado. Por isso, é importante que a gestante portadora de cardiopatia congênita seja submetida ao ecocardiograma fetal em torno da 20.ª semana de gravidez, além do exame morfológico para se chegar a um diagnóstico precoce, e exames de vitalidade fetal, como dopplerfluxometria. Contudo, nem todo bebê de mãe cardiopata vai apresentar alguma doença do coração ou restrição de crescimento.
Os riscos de uma gravidez em mulheres cardiopatas são:
• Trabalho de parto prematuro;
• Restrição de crescimento do feto;
• Alterações da vitalidade fetal;
• Bolsa rota (quando rompe a bolsa gestacional e há perda de líquido aminiótico).
A importância do pré-natal multidisciplinar:
Toda mulher que deseja engravidar deve antes fazer um check-up completo, garantindo que sua saúde esteja normal. Infelizmente, este não é o cenário atual. Segundo especialistas, muitas mulheres só vão perceber que possuem alguma doença do coração quando já estão grávidas. E isso ocorre em função do aumento do volume de sangue que circula no coração, o que leva ao início ou ao aumento dos sintomas que antes passavam despercebidos. Essa situação é um risco enorme tanto para a saúde da mãe quanto para a do bebê.
A maioria das cardiopatias possui alguns sintomas. Se a mulher, ocasionalmente, apresenta falta de ar ao esforço ou na hora de dormir, palpitações, e se existe algum sinal de mais cansaço do que o normal, antes de pensar em engravidar ela deve relatar esses sintomas ao seu obstetra para que ele peça uma avaliação cardiológica e possa corrigir possíveis doenças do coração antes de engravidar.
O acompanhamento em casos de grávidas cardiopatas deve ser feito sempre pelo obstetra e pelo cardiologista. E exames como eletrocardiograma, ecocardiograma e exames de medicina fetal precisam ser feitos regularmente.
Se estiver tudo bem com a saúde da mãe e do bebê, as consultas são feitas da seguinte forma:
• Do primeiro ao sexto mês, consultas mensais;
• Entre o sétimo e o oitavo mês, consultas quinzenais;
• Após o oitavo mês, consultas toda semana.
Formas de tratamento:
Tudo é feito para salvar tanto a mãe quanto o bebê. Algumas mulheres são operadas para tratar suas cardiopatias mesmo durante a gravidez. Sendo o período entre a 16.ª e a 24.ª semana o mais indicado para a cirurgia.
Hoje, os tratamentos para cardiopatias em mulheres grávidas são minimamente invasivos, sem a necessidade de se fazer grandes cirurgias, como era antigamente. Já é possível fazer cirurgias cardíacas por hemodinâmica, em que são introduzidos cateteres na veia femural e, guiado por raio X, o médico consegue tratar o coração da paciente.
Em mulheres que têm cardiopatias diagnosticadas há tempo e são tratadas com anticoagulantes orais, é de suma importância que ela planeje a sua gravidez com bastante antecedência, pois este tipo de medicamento pode levar à má-formação no feto. Neste caso, recomenda-se que essas mulheres passem a fazer uso dos anticoagulantes injetáveis, que não oferecem risco para a saúde do bebê.
Por fim, os médicos afirmam que o melhor tipo de parto para uma grávida cardiopata é o parto vaginal, com analgesia (a dor aumenta o esforço do coração e os batimentos cardíacos) e, quando necessário, com a ajuda de fórceps de alívio. No parto vaginal, a mulher perde menos sangue e de forma mais lenta do que num parto de cesárea, e isso para uma mulher cardiopata é crucial.
Fonte: Hospital Israelita Albert Einstein. "Doenças do coração e gravidez: um perigo real". Por Dr. Eduardo Cordioli e Dr. Daniel Born. Conteúdo Editado. Autorizado sob licença CC BY-ND 3.0 BR.