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Uso excessivo de celulares pode ser prejudicial às crianças.

Uso excessivo de celulares pode ser prejudicial às crianças.

Sociedade Brasileira de Pediatria lança manual de orientação sobre Saúde de Crianças e Adolescentes na Era Digital.

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) acaba de lançar o Manual de Orientação #MENOS TELAS #MAIS SAÚDE, com informações sobre o uso de telas e internet por crianças e adolescentes. O objetivo é cuidar do futuro das crianças brasileiras, reiterando e atualizando as recomendações descritas no Manual de Orientação de 2016.

 

O novo manual da SBP é mais uma iniciativa que promove um olhar de cuidados familiares, assegurando a formação de valores éticos e fazendo despertar o apoio e a resiliência familiares em busca do pleno desenvolvimento infantil.

 

Segundo a pesquisa TIC KIDS ONLINE – Brasil (2018), realizada pelo Comitê Gestor de Internet no Brasil, em amostra representativa de crianças e adolescentes brasileiros, entre 9 e 17 anos, foi demonstrado que 86% estão conectados. Este uso da Internet se faz pelo telefone celular em 93%, com compartilhamento de mensagens instantâneas (80% Sexo Feminino; SF e 75% Sexo Masculino; SM), uso de redes sociais (70% SF e 64% SM), fotos e vídeos (53% SF e 44% SM), jogos online (39% SF e 71% SM) e offline (56% SF e 65% SM), além de assistir vídeos, filmes e programas ou séries na Internet (83%, tanto no SF como no SM).

 

Posse de perfil em redes sociais é referida por 82% do total da amostra. Alguns relataram riscos de conteúdos sensíveis sobre alimentação ou sono em 20%, formas de machucar a si mesmo em 16%, formas de cometer suicídio em 14% e experiências com o uso de drogas em 11%. Ao redor de 26% foram tratados de forma ofensiva (discriminação ou cyberbullying) e 16% relataram acesso a imagens ou vídeos de conteúdo sexual. No total da amostra, 24% ficaram muito tempo na Internet e 25% não conseguiram controlar o tempo de uso, mesmo tentando passar menos tempo na Internet.

 

De acordo com o novo manual, estes dados demonstram não só a relevância dos riscos à saúde, de maneira geral, mas também riscos para transtornos de saúde mental e problemas comportamentais.

 

Crianças em idades cada vez mais precoces têm tido acesso aos equipamentos eletrônicos em quaisquer lugares, como lares, escolas, creches, restaurantes, ônibus, carros, sempre com o objetivo de fazer com que a “criança fique quietinha” (a chamada distração passiva).

 

O atraso no desenvolvimento da fala e da linguagem é frequente em bebês que ficam passivamente expostos às telas por períodos prolongados.

 

O brilho das telas, devido à faixa de onda de luz azul presente na maioria delas, contribui para o bloqueio da melatonina e para a prevalência cada vez maior das dificuldades de dormir e manter uma boa qualidade de sono à noite na fase de sono profundo, com aumento de pesadelos e terrores noturnos. Ao acordar, observa-se aumento da sonolência diurna, problemas de memória e concentração durante o aprendizado com diminuição do rendimento escolar e associação com sintomas dos transtornos do déficit de atenção e hiperatividade.

 

Existe também o aumento do estresse pelo uso indiscriminado de fones de ouvido (headphones) em volumes acima do tolerável e podendo causar trauma acústico e perda auditiva induzida pelo ruído (PAIR), irreversível.

 

Nada substitui o contato e o afeto humanos nos cuidados imediatos durante a primeira infância. Crianças maiores e adolescentes também precisam do apoio e da atenção dos pais para um desenvolvimento pleno. E é papel e responsabilidade dos pais e dos profissionais de saúde que cuidam de crianças darem a eles orientações sobre o uso das mídias digitais. Os pais devem se lembrar de que a maioria dos videogames e mídias digitais são equipados com ferramentas de controle parental para proteger a privacidade e a segurança das crianças, com vários parâmetros de seleção.

 

As mídias estão preenchendo vácuos, temporais ou existenciais, como não ter o que fazer, se distrair, falta de apego, abandono afetivo ou mesmo pais ocupados, estressados ou cansados demais para dar atenção aos seus filhos, ou por que eles nem mesmo desgrudam de seus próprios celulares.

 

Principais Problemas Médicos e Alertas de Saúde de Crianças e Adolescentes na Era Digital da Sociedade Brasileira de Pediatria, SED@SBP:

 

    • Dependência digital e uso problemático das mídias interativas;

    • Problemas de saúde mental: irritabilidade, ansiedade e depressão;

    • Transtornos do déficit de atenção e hiperatividade;

    • Transtornos do sono;

    • Transtornos de alimentação: sobrepeso/obesidade e anorexia/bulimia;

    • Sedentarismo e falta da prática de exercícios;

    • Bullying & cyberbullying;

    • Transtornos da imagem corporal e da auto-estima;

    • Riscos da sexualidade, nudez, sexting, sextorsão, abuso sexual, estupro virtual;

    • Comportamentos auto-lesivos, indução e riscos de suicídio;

    • Aumento da violência, abusos e fatalidades;

    • Problemas visuais, miopia e síndrome visual do computador;

    • Problemas auditivos e PAIR, perda auditiva induzida pelo ruído;

    • Transtornos posturais e músculo-esqueléticos;

    • Uso de nicotina, vaping, bebidas alcoólicas, maconha, anabolizantes e outras drogas.

 

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) reitera as recomendações descritas no Manual de Orientação de 2016 e atualiza:

 

    • Viver com mais saúde é do lado de cá, junto com as crianças e adolescentes, não é do lado de lá, das telas com robôs e algoritmos!

    • Evitar a exposição de crianças menores de 2 anos às telas sem necessidade (nem passivamente!);

    • Crianças com idades entre 2 e 5 anos, limitar o tempo de telas ao máximo de 1 hora/dia, sempre com supervisão de pais/cuidadores/responsáveis;

    • Crianças com idades entre 6 e 10 anos, limitar o tempo de telas ao máximo de 1-2 horas/dia, sempre com supervisão de pais/responsáveis;

    • Adolescentes com idades entre 11 e 18 anos, limitar o tempo de telas e jogos de videogames a 2-3 horas/dia, e nunca deixar “virar a noite” jogando;

    • Não permitir que as crianças e adolescentes fiquem isolados nos quartos com televisão, computador, tablet, celular, smartphones ou com uso de webcam; estimular o uso nos locais comuns da casa;

    • Para todas as idades: nada de telas durante as refeições e desconectar 1-2 horas antes de dormir;

    • Oferecer alternativas para atividades esportivas, exercícios ao ar livre ou em contato direto com a natureza, sempre com supervisão responsável;

    • Nunca postar fotos de crianças e adolescentes em redes sociais públicas, por quaisquer motivos;

    • Criar regras saudáveis para o uso de equipamentos e aplicativos digitais, além das regras de segurança, senhas e filtros apropriados para toda família, incluindo momentos de desconexão e mais convivência familiar;

    • Encontros com desconhecidos online ou offline devem ser evitados, saber com quem e onde seu filho está, e o que está jogando ou sobre conteúdos de risco transmitidos (mensagens, vídeos ou webcam), é responsabilidade legal dos pais/cuidadores;

    • Estimular a mediação parental das famílias e a alfabetização digital nas escolas com regras éticas de convivência e respeito em todas as idades e situações culturais, para o uso seguro e saudável das tecnologias;

    • Conteúdos ou vídeos com teor de violência, abusos, exploração sexual, nudez, pornografia ou produções inadequadas e danosas ao desenvolvimento cerebral e mental de crianças e adolescentes, postados por cyber criminosos, devem ser denunciados e retirados pelas empresas de entretenimento ou publicidade responsáveis;

    • Identificar, avaliar e diagnosticar o uso inadequado precoce, excessivo, prolongado, problemático ou tóxico de crianças e adolescentes para tratamento e intervenções imediatas e prevenção da epidemia de transtornos físicos, mentais e comportamentais associados ao uso problemático e à dependência digital;

    • Leis de proteção social e do uso seguro e ético das tecnologias existem, devem ser respeitadas por todos e multiplicadas em campanhas de educação em saúde accessíveis ao público, em geral;

    • Responsabilidade social é também uma questão de direitos à saúde e prevenção de riscos e danos para Crianças e Adolescentes na Era Digital.

 

 

Fonte: AbcMed, 2020. "Sociedade Brasileira de Pediatria lança manual de orientação #MENOS TELAS #MAIS SAÚDE". Autorizado sob licença CC BY-ND 3.0 BR.

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Rodrigo Paez

Rodrigo Paez

Formado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) - Escola Paulista de Medicina e especialista em Cirurgia Cardíaca, Cardiovascular, Endovascular e Marcapassos. Adepto da cirurgia cardíaca minimamente invasiva é pesquisador do estudo multicêntrico Bypass, que reune os melhores centros de cirurgia cardíaca do Brasil.