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Crianças e adolescentes, realmente, têm pressão alta?

Crianças e adolescentes, realmente, têm pressão alta?

Novas diretrizes de referência para classificação da pressão arterial infantil.

Novas diretrizes de prática clínica pediátrica de pressão arterial (PA) foram lançadas em 2017 pela American Academy of Pediatrics (AAP). Essas diretrizes objetivaram estabelecer melhores intervalos de referência de PA para crianças e adolescentes com peso normal, excluindo crianças com sobrepeso ou obesas. As novas diretrizes também mudaram algumas das terminologias e definições de PA "normal" e "elevada" usadas nas diretrizes anteriores (ver tabela abaixo). O termo "pré-hipertensão" não é mais usado.

 

Tabela: Definições de Pressão Arterial da Academia Americana de Pediatria

 

  Idade de 1-13 anos Idade ≥ 13 anos
Pressão arterial
normal
Sistólica e diastólica < percentil 90 < 120/< 80 mmHg
Pressão arterial
elevada
percentil ≥ 90 a < 95 ou 120/80 mmHg a percentil < 95 120/< 80 mmHg a 129/< 80 mmHg
Hipertensão
estágio 1
percentil ≥ 95 a < 95 + 12 mmHg ou 130/80 mmHg a 139/89 mmHg (o que for menor) 130/80 mmHg a 139/89 mmHg
Hipertensão
estágio 2
percentil ≥ 95 + 12 mmHg ou ≥ 140/90 mmHg (o que for menor) ≥ 140/90 mmHg

 

Quantas crianças foram reclassificadas?

 

Usando dados da National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES), coletados de 1999 a 2014, um estudo recente objetivou descobrir como esses novos valores de referência podem alterar a proporção de crianças diagnosticadas com hipertensão arterial. Os dados incluíram mais de 15.000 crianças (com amostragem representativa de populações minoritárias) com uma idade média de 13,4 anos. Utilizando o critério NHANES, 35,9% das crianças da amostra estavam acima do peso, destas, 10,3% foram classificadas como obesas.

 

Usando as definições atualizadas da AAP, 5,8% da coorte teriam sido classificadas como "ascendentes", em termos de classificação da PA. Cerca de um terço dessas crianças foram reclassificadas de PA "normal" para PA elevada ou hipertensão de estágio 1. Aproximadamente metade desse grupo tinha "pré-hipertensão" sob a antiga designação, mas agora foi classificada como hipertensão de estágio 1. Apenas cerca de 5% dos classificados "ascendentes" passaram da fase 1 para a fase 2 da hipertensão.

 

As crianças reclassificadas tinham maior probabilidade de apresentar índice de massa corporal elevado, anormalidades lipídicas ou níveis de A1c anormais, representando uma população de alto risco que pode exigir uma avaliação mais completa do risco cardiovascular.

 

A estimativa populacional de pressão arterial elevada ou hipertensão aumentou de 11,8% para 14,2% com os novos valores de referência de pressão arterial.

 

William T. Basco, professor do Departamento de Pediatria da Universidade de Medicina da Carolina do Sul (MUSC), comentou a nova classificação de pressão arterial infantil na seção Viewpoints do Medscape Pediatrics e disse que o fato de que 14% da população infantil e adolescente dos EUA seria classificada como tendo pressão arterial elevada ou hipertensão é uma estatística surpreendente e deve nos levar a considerar com que precisão medimos, avaliamos e tratamos a PA anormal em crianças.

 

Há algumas notas de advertência. Primeiro, os dados da NHANES coletaram apenas uma única medida da PA, embora presumivelmente ela tenha sido feita de maneira apropriada. As diretrizes sugerem medir a PA duas ou três vezes na clínica, especialmente depois de a criança ficar quieta por 5 minutos. PAs subsequentes após a medida inicial em um ambiente clínico são frequentemente menores e a PA média deve ser usada.

 

Mesmo que a cifra de 14% seja superestimada, pois as crianças foram classificadas com base em uma única medida de PA, a proporção real de crianças com PA elevada ainda pode estar em torno de 10% - um número alto.

 

Uma revisão completa das diretrizes está além do escopo deste comentário, mas os profissionais devem se valer da sequência recomendada para modificação do estilo de vida, intervalos de acompanhamento, indicações de início de uso de medicação e de quando iniciar o tratamento mais intenso da hipertensão.

 

 

Fonte: NEWS.MED.BR, 2018. "Hipertensão arterial na infância ou a criança com pressão alta: o que deve ser feito?". https://bit.ly/2JEhK2M

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Rodrigo Paez

Rodrigo Paez

Formado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) - Escola Paulista de Medicina e especialista em Cirurgia Cardíaca, Cardiovascular, Endovascular e Marcapassos. Adepto da cirurgia cardíaca minimamente invasiva é pesquisador do estudo multicêntrico Bypass, que reune os melhores centros de cirurgia cardíaca do Brasil.